A nutrição na recuperação da lesão é um tema pouco desconstruído, ainda que para a melhoria da performance desportiva e na saúde sejam inúmeros os benefícios apontados à implementação de estratégias nutricionais, inclusive de suplementação.
A suplementação em creatina é uma das mais estudadas, seguras e disseminadas neste sentido, com comprovado potencial ergogénico e terapêutico(1-3). Da mesma forma que promove indiretamente o desempenho desportivo por otimização da recuperação do dano muscular no pós-treino, também parece ter resultados interessantes ao nível da prevenção e tratamento da lesão.
O QUE MOSTRAM OS ESTUDOS?
Se no passado se pensava que a creatina poderia aumentar o risco de cãibras, contraturas musculares, lesões relacionadas com o calor/desidratação ou outras, a Ciência tem vindo a desmitificar estas suposições e até a contrariá-las, demonstrando um efeito protetor(4, 5). Vários estudos concluem que atletas suplementados com creatina têm tantas ou menos lesões que atletas não suplementados(4, 6, 7).
Desde logo, a suplementação com creatina poderá trazer vantagem pela simples correção de um défice. Durante períodos de extrema inatividade como em caso de imobilização por lesão, os níveis de creatina podem reduzir-se até 25%(8). Quem produz deficitariamente este aminoácido a nível endógeno, tem uma ingestão diminuída (vegetarianos e veganos como exemplo mais representativo) ou treina de forma bastante intensa está igualmente suscetível a ter défice e necessidade de toma suplementar.
Este contributo poderá explicar-se por mecanismos de ação da creatina que incluem a neuroproteção, promoção da reposição das reservas de fosfocreatina e glicogénio muscular, de uma maior tolerância a cargas de treino pesadas (menor perceção de esforço-fadiga, manutenção do rendimento desportivo por um período de tempo mais alargado), do aumento da expressão de fatores de crescimento(9), da termorregulação e hidratação, e da redução da inflamação(1-3).
Em situações de imobilização temporária por lesão, e consequente atrofia muscular com redução da capacidade funcional, a suplementação oral de creatina parece mitigar a perda de massa muscular no membro afetado e estimular em maior grau a hipertrofia e força muscular em resposta aos exercícios de reabilitação, relativamente à toma de um placebo(9).
Mas os resultados não se ficam pelo músculo. Um estudo recém-publicado que avaliou o efeito da suplementação de creatina na reabilitação de lesões por sobrecarga nos tendões de nadadores(as) adolescentes, verificou que o grupo suplementado perdeu menos massa magra no período de imobilização, ganhou mais ao fim de quatro semanas de reabilitação e apresentou uma taxa de redução da intensidade da dor mais rápida que o grupo placebo(10).
Assim, é cada vez mais evidente o papel diferenciador que a creatina poderá desempenhar na gestão da lesão desportiva. De qualquer das formas, é recomendável que consulte sempre um profissional de saúde especializado antes de iniciar um protocolo de suplementação, para que uma dosagem adequada seja estabelecida e o seu estado de saúde salvaguardado.
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Autores
Rita Giro
Nutricionista, Mestranda em Nutrição Desportiva pela Universidade de Liverpool
António Pedro Mendes
Nutricionista, Coordenador da Unidade de Nutrição no Desporto e Atividade Física da Clínica do Dragão – FIFA MC of Excelente
Bibliografia
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