O ombro é a articulação do corpo com maior arco de mobilidade, graças ao seu desenho anatómico. Esta particularidade confere, no entanto, uma maior predisposição para a instabilidade, já que, em qualquer momento do arco de movimento apenas 25% da superfície articular da cabeça umeral contacta com a superfície da glenóide, dependendo em larga medida da complexa interação entre os estabilizadores estáticos (estruturas capsuloligamentares, ósseas e labrais) e dinâmicos (componente neuromuscular).
A prevalência na população é de cerca de 23.9/100.00 habitantes, com uma taxa de incidência anual de 1,7% na população em geral, mais frequente no sexo masculino. Os fatores de risco epidemiológicos identificados são o sexo masculino, a idade inferior a 30 anos e a prática de desportos de contacto, sendo o futebol, o hóquei e o wrestling as modalidades mais afetadas.
A orientação terapêutica deve ser individualizada ao indivíduo e ao seu contexto. Assim, há questões que devem ser respondidas antes da decisão, tais como: Sexo? Idade? Primeiro episódio? Atleta amador ou profissional? Lesões associadas?
Após respondidas as questões elementares de uma história clínica cuidada, há evidências a ter em conta:
- A recorrência da instabilidade do ombro é diretamente proporcional ao nível de atividade e inversamente proporcional à idade no primeiro episódio;
- A taxa de recorrência é de cerca de 72% quando o primeiro episódio acontece antes dos 23 anos de idade e de cerca de 27% após os 30 anos;
- Alterações degenerativas da articulação do ombro 25 anos após o primeiro episódio devem ser esperadas num grau moderado em cerca de 27% dos casos, e num grau moderado a severo em cerca de 34% dos casos.
ALGORITMO TERAPÊUTICO EM ATLETAS
Na primeira etapa da decisão terapêutica de um atleta com instabilidade anterior do ombro deve fazer-se a exclusão de hiperlaxidez ligamentar e discinésia escapulotorácica, que devem alterar a conduta terapêutica.
Para o tratamento conservador define-se como o atleta-tipo ideal um atleta com lesão in-season, praticante de desporto de não-contacto ou overhead e que responda favoravelmente ao tratamento conservador sem apreensão ou instabilidade evidente. Este tratamento deve visar o ganho progressivo de mobilidade, força, propriocepção e, acima de tudo, autoconfiança.
Por outro lado, o tratamento cirúrgico será o gold-standard num atleta com uma lesão off-season, com menos de 20 anos de idade e praticante de desporto de contacto ou overhead, sendo que os procedimentos mais comummente realizados são o procedimento de Bankart e o Bristow-Latarget, ambos com indicações clínicas diferentes, a decidir caso a caso.
A escassez de publicações na literatura acerca desta temática dificulta a gestão de expectativas dos atletas, sendo que o return-to-play será condicionado pelos fatores intrínsecos (idade, sexo, anatomia, lesões associadas) e extrínsecos (tipo de desporto, tratamento conservador ou cirúrgico) ao atleta, sendo variável de caso para caso.